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Quais são as principais pragas encontradas no sistema de sucessão soja-algodão?

Atualizado: 21 de jul. de 2023

A sucessão de lavouras de grãos mais comum no cenário agrícola nacional é baseada no sistema soja-milho. No entanto, muitos produtores de algodão passaram a ajustar seus calendários de semeadura e conduzir lavouras de soja antes da semeadura do algodão. Para tanto, a semeadura da soja é realizada no início das chuvas da primavera, com colheita no mês de janeiro, com sequente semeadura do algodão dentro da janela ideal para a cultura (dezembro/janeiro) para colheita no inverno (julho/agosto). Esse sistema de produção faz com que existam plantas cultivadas na área pela maior parte do ano, criando o que chamamos de “ponte-verde”, que representa a disponibilidade de alimento e abrigo para espécies de pragas que atacam mais de uma cultura.


Algumas pragas de solo podem causar perdas em produtividade tanto nas lavouras de soja, quanto nas de algodão. Um exemplo é o percevejo castanho, do gênero Scaptocoris, cujos danos principais são observados na fase de emergência e pós-emergência das culturas, cujos sintomas são plantas menos desenvolvidas e amareladas, devido à alimentação dos adultos e ninfas nas raízes, sugando nutrientes das plantas. Essas espécies podem, ainda, se alimentar de plantas de milho e, um sintoma típico para o monitoramento desses percevejos é o forte odor que exala na área quando há movimentação no solo.

percevejo castanho
doenças da cultura da soja

Figura 1. Adultos de percevejo-castanho (esquerda) e danos típicos na cultura da soja (direita). Fonte: EMBRAPA.

 

Em regiões de solos mais leves (arenosos) e, em condições climáticas de menor umidade, problemas com a lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus, tendem a se agravar. Essa espécie é comum em lavouras de soja e algodão, atacando na fase inicial das culturas, criando galerias ascendentes no caule. Com o avanço do ataque, os ponteiros tendem a secar e pode ocorrer porte da plântula, com consequente redução de estande.


Além das pragas iniciais comuns às duas culturas, um problema cada vez mais comum é a movimentação de espécies de lagartas desfolhadoras entre as lavouras de soja e algodão, com destaque àquelas do gênero Spodoptera e Helicoverpa. São pragas que estão se adaptando ao sistema de produção, podendo causar danos em praticamente todas as fases de desenvolvimento dessas culturas.


Dentro do gênero Spodoptera, são mais comuns nas lavouras de soja e algodão as espécies Spodoptera eridania e Spodoptera frugiperda. Os danos causados por S. frugiperda podem ser em função do corte de plântulas, caso altas infestações ocorram na fase inicial da cultura, além da desfolha e o ataque aos órgãos reprodutivos da cultura, causando perdas na quantidade e qualidade da fibra produzida.

ataque de lagartas
Spodoptera frugiperda

Figura 2. (esquerda) Presença de Spodoptera frugiperda em fase inicial de algodão. Fonte: AMIPA; (direita) Ataque de Spodoptera frugiperda em estruturas vegetativas de algodão. Fonte: Jarrod Hardke.

 

Em relação à espécie S. eridania, os danos são muito semelhantes aos de S. frugiperda nas lavouras de algodão. Podem causar desfolha, se alimentando principalmente do limbo foliar e deixando as nervuras. Os danos tendem a se agravar com a emissão dos primeiros botões florais, quando as lagartas podem passar a atacar as estruturas reprodutivas das plantas.

Spodoptera eridania
Spodoptera eridania

Figura 3. Ataque de Spodoptera eridania em folhas (esquerda) e estruturas reprodutivas (direita) de algodão. Fonte: Ronald Smith.

 

Em soja, as espécies do gênero Spodoptera podem atacar folhas, flores e vagens, sendo encontradas mais facilmente na região do baixeiro das plantas e nos períodos mais frescos do dia. O aumento da problemática em relação a essas espécies no sistema de produção é devido à alta capacidade de multiplicação e sobrevivência nas diversas espécies vegetais presentes no sistema. Spodoptera frugiperda, por exemplo, é a principal praga do milho, cultura muito comum nas regiões produtoras de soja e algodão. Além disso, a grande maioria das espécies vegetais utilizadas como cultura de cobertura é hospedeira dessas espécies e, até mesmo a estratégia de não implantar culturas de cobertura (pousio) pode resultar na presença de plantas daninhas que podem abrigar essas lagartas.


O mesmo ocorre com as espécies do gênero Helicoverpa, com destaque para Helicoverpa armigera. Os danos dessa lagarta na soja podem ocorrer desde a fase de plântulas até o período reprodutivo, quando atacam vagens. A identificação dessa lagarta baseada exclusivamente na coloração pode levar a enganos pois, como pode se observar na figura abaixo, sua coloração pode variar de tons de bege até tons mais escuros, passando por tons de verde. Em lavouras de algodão, surtos populacionais de H. armigera podem levar a perdas na ordem de 25-30%. Os principais danos são em decorrência do ataque a estruturas reprodutivas da cultura.

Helicoverpa armigera

Figura 4. Diferentes colorações de Helicoverpa armigera registradas em plantas de soja. Fonte: EMBRAPA

 

Outra espécie de lagarta de importância nas lavouras de algodão que tem sido reportada nas lavouras de soja é a lagarta-da-maçã. Essa lagarta também é conhecida no campo como lagarta heliothis, pois seu nome científico era Heliothis virescens, antes da atualização para Chloridea virescens. Essa espécie pode ser facilmente confundida com H. armigera pois são espécies pertencentes ao grupo Heliothinae. Desse modo, as estratégias de controle podem ser baseadas na contagem de indivíduos das duas espécies como um grupo.

Helicoverpa armigera no algodão
Helicoverpa armigera

Figura 5. Ataque de Helicoverpa armigera em estruturas reprodutivas de algodão. Fonte: EMBRAPA.

 

Mosca-branca, Bemisia tabaci, é uma praga comum em diversas plantas cultivadas, com alto potencial biótico, ou seja, alta capacidade de aumento populacional. Pode ser encontrada em lavouras de soja e de algodão, causando perdas significativas em função dos danos diretos e indiretos de sua alimentação. Os danos diretos são pela sucção nas plantas e, os indiretos são pelo aparecimento da fumagina, causada por fungos do gênero Capnodium, que utilizam como substrato de desenvolvimento a substância açucarada excretada pela mosca-branca durante a alimentação. Em algodão, esse dano se agrava, pois pode haver perdas qualitativas na fibra em decorrência da fumagina.


Outras espécies que têm sido reportadas no sistema de produção soja-algodão são os percevejos da família Pentatomidae, com destaque para o percevejo-marrom, Euschistus heros. Os danos e o manejo desses percevejos já são amplamente discutidos para a cultura da soja, no entanto, poucas informações estão disponíveis para a cultura do algodão. De modo geral, sabe-se que altas populações de percevejos podem causar queda de botões florais e, até mesmo, danificar maçãs, levando a perdas na produtividade.


Ainda, vale ressaltar que problemas com ácaros, principalmente ácaro-rajado, têm sido mais comuns em lavouras de soja e algodão. Essas pragas são favorecidas por clima quente e seco, muito comum na fase inicial da cultura do algodão e, em eventos climáticos adversos na cultura da soja, como os veranicos.


O reconhecimento das principais pragas é essencial para um monitoramento correto. Em conjunto com o reconhecimento dos inimigos naturais e dos níveis de controle ideais, se configuram as bases do Manejo Integrado de Pragas. Esse conjunto de técnicas de amostragem e controle é indispensável para o manejo de pragas no sistema de produção, frente aos desafios impostos pela presença constante de plantas hospedeiras e do clima ideal para a manutenção das pragas na área.

 

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